terça-feira, 31 de agosto de 2010

Recortes Lacobrigenses

Lagos é uma cidade fantástica para se passar o Verão. Bem mais pequena que Albufeira e Portimão, Lagos tem uma certa aura acolhedora e mais familiar do que esses grandes pontos turísticos (e não, não digo isto por ter crescido nesta cidade, simplesmente é a minha opinião).

Para além disso é uma cidade inspiradora. Seja pelas magníficas praias, pelas grutas cavadas pelo mar que se estendem pelas falésias, ou pelas ruas que, durante a noite, têm um artista em cada canto, seja ele um músico, um pintor, um bailarino, ou um dos vários homens-estátua que imitam o rei D. Sebastião (e que, de ano para ano, cada vez se encontram mais).

Mas não querendo que isto comece a parecer uma página de publicidade aos destinos mais agradáveis deste país, o que realmente eu quero dizer é que escrevi uma música. Por enquanto é apenas um esboço, ainda tem muito para retocar, mas o que interessa é que está a sair algo. Essa música é justamente sobre a minha cidade e tem o nome deste post.

Quando estiver tudo alinhavado partilho aqui a letra, para já deixo-vos com uns versos e uma fotografia de uma das praias.


Nas rochas segredos que só o pescador vê,
Por mais que tente o sábio intelectual os lê...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Redescobertas

Como habitualmente me acontece, chega a uma certa altura das férias que passo por um momento de introspecção. Neste verão, isso tem vindo a acontecer de uma forma mais prolongada que noutros. Passando pelas arrumações, pinturas e remodelações de um velho quarto, há redescoberta de um gosto pela escrita, e mais recentemente pela composição de algumas canções.

Essa epifania (se é que assim o posso chamar) passou-se durante o festival Sudoeste. Aliás, foi durante o concerto de Beirut, o qual eu referi no post anterior que decidi investir um pouco mais nessa veia criativa que tenho deixado semi-adormecida desde que entrei para a universidade, há quatro anos.

No que diz respeito à escrita em si, desde há uns meses para cá que tenho escrito poemas e letras novas. No entanto andava com um bloqueio a nível musical. Para minha surpresa, nestes últimos dias tem sido ultrapassado.

Por enquanto deixo-vos com mais um vídeo de Beirut, de uma música que só hoje descobri e que foi amor à primeira nota.

sábado, 21 de agosto de 2010

Sorrisos

Há músicas que inexplicavelmente nos põem com um sorriso. Desde o primeiro acorde que são uma viagem pela nossa imaginação e trazem-nos um estranho conforto e bem-estar.

Foi assim que me senti no concerto de Beirut no Festival Sudoeste este ano. Desde a primeira nota que foi uma viagem por outro mundo. Bastou fechar os olhos e navegar à deriva naquelas ondas de sons de acordeão, guitarra, trompetes e ukulele. O auge foi, para mim, a minha música preferida – “Postcards from Italy”.

Fica aí o vídeo da música que encontrei no youtube.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Piano

Cai a chuva lá fora,
O vento faz-se ouvir enquanto sopra,
O bairro dorme, mudo,
E o piano, levemente, toca.

Só ele o escuta
Enquanto ela o faz cantar,
Suavemente dedilhando
Suas músicas de embalar.

Melodias fazem sonhar
Acordado noite dentro
Fazendo o tempo parar
Um segundo, p’ra meu contento.

Como se cada manhã fosse igual
Cada dia fosse Domingo,
Como se esse primeiro beijo
Se fosse eternamente sentindo.

As primeiras noites
Não fossem apenas memória
Repetindo-se toda a vez,
Todas com uma diferente história.

Desde o olhar ao sorriso,
Até ao cabelo intrometido,
Todos eles dançam ao ritmo
Desse instrumento antigo.

Voltando a si ele repara
Que a música abrandou
E que as notas de raiva que escutara
São agora de uma paixão com que sempre sonhou.


03/05/2009

Cinema

Escuto ao fundo um sopro do destino,
Uma voz doce que encanta,
Um sorriso genuíno
Numa noite entre tantas.

Não tenciono prender-me
Nem sequer reter-me no tempo,
Mas ao passar por aquela rua
Fico preso no momento.

Um momento em que passava
Sem nada a atenção me despertar,
Dei por mim a ver uma fada
Como se fosse minha consciência a falar.

Guardei para mim esse segredo
Acabando por o revelar
Outra noite, mesmo enredo,
Uma história ainda por contar.

Acaba o primeiro filme
O público sai da sala desiludido
Sentindo, no entanto,
Não se tratar de tempo perdido.

E ninguém os pode censurar, realmente.
Com o cinema às escuras
A fita começa a rodar novamente
Deixando antever o final
Pelo qual aguardava esse público descrente.


20/04/2010

Palavras

Como passar para palavras o que se vê?
Uma imagem vale mais que mil palavras,
Mas nem sempre toca um pessoa
Com a intensidade de uma frase.

Uma frase nem sempre é tão directa e sincera
Como a sinceridade de uma imagem.
Um gesto, por vezes, desperta sentimentos
Que nem a mais bela frase consegue despertar.

A imagem pode esconder,
Mas o gesto não o pode negar.
As palavras podem mentir,
Mas o sentimento acaba por se revelar.

Ao exprimir o que se sente
As palavras podem não chegar,
A imagem pode se desfocar,
Mas o gesto acaba sempre por se ouvir,
Transmitindo a mensagem
Com a intensidade com que o sol se faz sentir.

Nada diz "amo-te" de forma tão inocente e sincera
Como uma simples flôr.
A palavra esconde-se na imagem
Com um simples gesto,
Exprimindo um sentimento puro
De um modo directo.

Nada como uma expressão
Para demonstrar a falta de afecto.
Nada como um sorriso
Para chamar a atenção de um olhar discreto.

Nada como um abraço
Para sentir a vida correr nas veias
Com a energia de uma estrela
E a beleza de uma sereia.

A vida não é tão má
Como leva a crer.
Basta aprender a sentir
O que nunca se quis viver.

Ouvir o mundo a falar
Através do vento e do mar.
Sentir a chuva a cair,
Olhar para cima e sorrir.

Sentir a água a escorrer,
Mergulhar no mundo e crescer.
Ouvir um pássaro a cantar,
Ver uma árvore tocar no ar.

Saltar de uma encosta para o oceano.
Olhar para cima
E sentir prazer no que se subiu
Para um momento poder viver.

Pensar no que se viveu
E ter orgulho de o ter vivido,
Sentir-se realizado
Por ter em cada instante sentido.

Das memórias ficam imagens
Por palavras, então, descritas,
E só o gesto de as descrever
Exprime a ilusão das escritas.


09/05/2006

Recordações

Olhos

Nos teus olhos vejo
Um mar de coisas sem fim,
Um reflexo desfocado,
As flores de um jardim

Nos teus olhos vejo
A esperança que nunca tive
A dor que terei.
A felicidade de quem vive
No castelo de um rei.

Nos teus olhos vejo-me
A viajar. Navegar nas tuas lágrimas,
No teu coração aportar,
Como que em busca de tesouros
Que uma pirâmide possa guardar.

Procurei lá no fundo
Por uma réstia de luz.
Entrei num novo mundo,
Fiquei preso no tempo
Sem tentar fugir,
A saborear o momento.

Agora nos meus olhos
Sinto falta dele.
Tento alcançá-lo
Mas não consigo tê-lo.

Agora nos meus olhos
Sinto lágrimas a cair
Por um instante passado,
Por algo que há de vir.

Nos meus olhos vejo
Escuridão. Um espelho partido
Vazio, um caixão.
A vida a fugir-me
Por debaixo da minha mão.

Com os teus olhos vejo
Um futuro único para nós,
O fim do desespero,
A prova de que não estamos sós.

Com os teus olhos vejo os meus.
Nos meus olhos vejo os teus.


31/10/2005

Vícios

Pego em ti uma última vez
Como se da primeira se tratasse.
Saboreio-te lentamente
Deixando que o tempo te leve.

Não sei porquê, mas voltei para ti,
Só mais desta vez…
Sentir junto a meus lábios
Esse prazer que alguém fez.

E na derradeira experiência
Ouso olhar à volta
E apreciar a verdadeira essência
De algo que não volta.

E ao querer largar-te, hesito.
Tenho medo de te deixar para trás,
Que nesse segundo
Passes de verdade a mito.

Toco-te mais uma vez
Para ter a certeza que não te esqueço,
Na esperança de que vejas
Aquilo que te ofereço.

Acabo por te largar,
Por te atirar janela fora.
Enquanto te vejo a voar
Não quero acreditar que foste embora.

Se fosse tão fácil ter-te de volta
Como estes vícios pouco saudáveis
Matava de vez a saudade
Tornando-nos inseparáveis.

À Procura da Terra do Nunca

Há filmes que nos inspiram. No anterior blogue, inspirado pela demanda de Chris Mccandless em busca da derradeira liberdade, retratada no filme Into the Wild, eu procurava a minha liberdade nas palavras. Neste blogue a paisagem é outra.

Ao ver o filme Finding Neverland, cheguei à conclusão que todos nós, através da nossa imaginação, dos nossos sonhos, procuramos o nosso caminho para Terra do Nunca. Todos gostariamos de viver lá de certa forma, um mundo perfeito em que um momento dura para sempre, em que tudo é possível.

Os primeiros posts vão ser dos poemas que já tinha colocado no outro blogue. A partir daí é dar asas à imaginação, começando assim À Procura da Terra do Nunca.