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sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Máscaras

Não estou propriamente muito inspirado para fazer uma introdução a este poema, portanto, o que dizer sobre ele… Este poema fala de medos, de dúvidas, de mecanismos de protecção. Fala também da vontade de conhecer genuinamente outra pessoa, pondo outras intenções de parte, de uma dança do quer e não quer… Enfim, um poema que já escrevi há uns mesinhos e que até gostei.

Máscaras

Mascara-se com as frases
Usando palavras caras,
Nunca dizendo aquilo que sente.
Sorri para ele
Olha-o com ternura,
Mas ao falar, mente.

Não tem coragem para dar um passo,
Por mais pequeno que ele seja.
Mostra-se valente,
Receando no entanto o risco,
Disfarçando com o sorriso
O medo que não quer que ele veja.

Ele apenas quer conhecer
Essa luz que irradia
Por aquele olhar.
Mas ela imperturbável
Mantêm a sua postura estóica
E nada quer mostrar.

Ele, teimoso como só ele sabe ser,
Senta-se frente a ela
E estende-lhe a sua mão.
Espera que toda a sua perseverança
A tire do meio dessa dança
E que ela abra o seu coração.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Piano

Cai a chuva lá fora,
O vento faz-se ouvir enquanto sopra,
O bairro dorme, mudo,
E o piano, levemente, toca.

Só ele o escuta
Enquanto ela o faz cantar,
Suavemente dedilhando
Suas músicas de embalar.

Melodias fazem sonhar
Acordado noite dentro
Fazendo o tempo parar
Um segundo, p’ra meu contento.

Como se cada manhã fosse igual
Cada dia fosse Domingo,
Como se esse primeiro beijo
Se fosse eternamente sentindo.

As primeiras noites
Não fossem apenas memória
Repetindo-se toda a vez,
Todas com uma diferente história.

Desde o olhar ao sorriso,
Até ao cabelo intrometido,
Todos eles dançam ao ritmo
Desse instrumento antigo.

Voltando a si ele repara
Que a música abrandou
E que as notas de raiva que escutara
São agora de uma paixão com que sempre sonhou.


03/05/2009

Cinema

Escuto ao fundo um sopro do destino,
Uma voz doce que encanta,
Um sorriso genuíno
Numa noite entre tantas.

Não tenciono prender-me
Nem sequer reter-me no tempo,
Mas ao passar por aquela rua
Fico preso no momento.

Um momento em que passava
Sem nada a atenção me despertar,
Dei por mim a ver uma fada
Como se fosse minha consciência a falar.

Guardei para mim esse segredo
Acabando por o revelar
Outra noite, mesmo enredo,
Uma história ainda por contar.

Acaba o primeiro filme
O público sai da sala desiludido
Sentindo, no entanto,
Não se tratar de tempo perdido.

E ninguém os pode censurar, realmente.
Com o cinema às escuras
A fita começa a rodar novamente
Deixando antever o final
Pelo qual aguardava esse público descrente.


20/04/2010

Palavras

Como passar para palavras o que se vê?
Uma imagem vale mais que mil palavras,
Mas nem sempre toca um pessoa
Com a intensidade de uma frase.

Uma frase nem sempre é tão directa e sincera
Como a sinceridade de uma imagem.
Um gesto, por vezes, desperta sentimentos
Que nem a mais bela frase consegue despertar.

A imagem pode esconder,
Mas o gesto não o pode negar.
As palavras podem mentir,
Mas o sentimento acaba por se revelar.

Ao exprimir o que se sente
As palavras podem não chegar,
A imagem pode se desfocar,
Mas o gesto acaba sempre por se ouvir,
Transmitindo a mensagem
Com a intensidade com que o sol se faz sentir.

Nada diz "amo-te" de forma tão inocente e sincera
Como uma simples flôr.
A palavra esconde-se na imagem
Com um simples gesto,
Exprimindo um sentimento puro
De um modo directo.

Nada como uma expressão
Para demonstrar a falta de afecto.
Nada como um sorriso
Para chamar a atenção de um olhar discreto.

Nada como um abraço
Para sentir a vida correr nas veias
Com a energia de uma estrela
E a beleza de uma sereia.

A vida não é tão má
Como leva a crer.
Basta aprender a sentir
O que nunca se quis viver.

Ouvir o mundo a falar
Através do vento e do mar.
Sentir a chuva a cair,
Olhar para cima e sorrir.

Sentir a água a escorrer,
Mergulhar no mundo e crescer.
Ouvir um pássaro a cantar,
Ver uma árvore tocar no ar.

Saltar de uma encosta para o oceano.
Olhar para cima
E sentir prazer no que se subiu
Para um momento poder viver.

Pensar no que se viveu
E ter orgulho de o ter vivido,
Sentir-se realizado
Por ter em cada instante sentido.

Das memórias ficam imagens
Por palavras, então, descritas,
E só o gesto de as descrever
Exprime a ilusão das escritas.


09/05/2006

Recordações

Olhos

Nos teus olhos vejo
Um mar de coisas sem fim,
Um reflexo desfocado,
As flores de um jardim

Nos teus olhos vejo
A esperança que nunca tive
A dor que terei.
A felicidade de quem vive
No castelo de um rei.

Nos teus olhos vejo-me
A viajar. Navegar nas tuas lágrimas,
No teu coração aportar,
Como que em busca de tesouros
Que uma pirâmide possa guardar.

Procurei lá no fundo
Por uma réstia de luz.
Entrei num novo mundo,
Fiquei preso no tempo
Sem tentar fugir,
A saborear o momento.

Agora nos meus olhos
Sinto falta dele.
Tento alcançá-lo
Mas não consigo tê-lo.

Agora nos meus olhos
Sinto lágrimas a cair
Por um instante passado,
Por algo que há de vir.

Nos meus olhos vejo
Escuridão. Um espelho partido
Vazio, um caixão.
A vida a fugir-me
Por debaixo da minha mão.

Com os teus olhos vejo
Um futuro único para nós,
O fim do desespero,
A prova de que não estamos sós.

Com os teus olhos vejo os meus.
Nos meus olhos vejo os teus.


31/10/2005

Vícios

Pego em ti uma última vez
Como se da primeira se tratasse.
Saboreio-te lentamente
Deixando que o tempo te leve.

Não sei porquê, mas voltei para ti,
Só mais desta vez…
Sentir junto a meus lábios
Esse prazer que alguém fez.

E na derradeira experiência
Ouso olhar à volta
E apreciar a verdadeira essência
De algo que não volta.

E ao querer largar-te, hesito.
Tenho medo de te deixar para trás,
Que nesse segundo
Passes de verdade a mito.

Toco-te mais uma vez
Para ter a certeza que não te esqueço,
Na esperança de que vejas
Aquilo que te ofereço.

Acabo por te largar,
Por te atirar janela fora.
Enquanto te vejo a voar
Não quero acreditar que foste embora.

Se fosse tão fácil ter-te de volta
Como estes vícios pouco saudáveis
Matava de vez a saudade
Tornando-nos inseparáveis.