domingo, 28 de novembro de 2010

Valsa de Outono

Sabem aqueles primeiros dias de Outono em que o frio começa a apertar e a vontade de nos levantarmos da cama é quase nenhuma? Depois olharmos pela janela vemos que está a chover, ainda menos vontade temos de sair de casa… Esta música é sobre isso mesmo, aquela monotonia irritante (pelo menos para mim) do Outono…


Seis e pico nasce o dia

Nessa cidade gelada.

Mais uma manhã fria

P’los cobertores aconchegada.


Espreito pela janela

A paisagem alagada

Por essa chuva intensa

Que se ouviu de madrugada.


Refrão:

O vento trás consigo

Saudades de outra estação,

De um porto, de um abrigo,

De um outro coração.


Dessa valsa que dançamos

Que de tanto querer avançar

Somente recuamos

Nesse nosso aproximar.


O casaco com cheiro a mofo

É agora meu agasalho

Saio para a rua um pouco rouco

Com este tempo de um raio.


Solta-se a folha castanha

Caindo suavemente na calçada,

Num embalo monótono,

P'lo Outono marcada.


(Refrão)


Vou tentando achar caminho

Através das poças no passeio.

Levo com chuva no focinho

Meio apático e alheio.


Até o cão vadio que se

Esconde à porta do vizinho

Está encharcado e irritado,

Não lhe dão nem um ossinho.


(Refrão)

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Estágios e Dissertações

Já à algum tempo que não escrevo aqui nada. Isto de estar em estágio, misturado com um projecto de dissertação de mestrado para entregar e polvilhado com uns ensaios da tuna pelo meio tem que se lhe diga.

Sempre vai dando para reflectir graças às várias histórias de vida com que vou contactando no estágio, no qual lido com toxicodependentes. Histórias de quem, muitas vezes por ter tudo, não sabia o que mais querer, ou de quem, por não ter nada, não sabia o que fazer. De facto, isto das drogas é um mundo muito vasto e não apenas o típico arrumador de carros que vemos todos os dias ao sair de casa no parque de estacionamento mais próximo. Mas pronto, isto já sou eu nas minhas introspecções...

O que é facto é que tudo isto vai mexendo comigo, vou parando para pensar e arranjando umas ideias novas para escrever uns poemas/letras de novas músicas. Assim que tiver alguma coisa em condições volto a pôr aqui no blogue.

Por agora, fica um vídeo do qual me lembrei depois de um dia de estágio, da música "Try, Try, Try" de Smashing Pumpkins. Dos melhores videoclips de sempre :)

domingo, 24 de outubro de 2010

Amor por aprender

Não tenho muito para escrever acerca deste poema. Basicamente retrata a confusão que certas pessoas despertam, aquela eterna indecisão entre que escolhas fazer na vida.


Andava em busca de casa

Estrada à frente, pó, mais nada

Até que cheguei a uma encruzilhada

Duas casas, uma entrada,

Sem saber qual escolher.


Uma segreda-me ao ouvido,

A outra tem um leve ruído

Escuto ambas, estremecido,

Sem saber em qual viver.


A primeira canta-me melodias,

A segunda encanta-me com manias

E apesar do passar dos dias

Não sei quem vai vencer.


Uma consciente, outra tonta

Conta-me histórias como quem conta

A história como uma afronta

À sua maneira de ser.


Por isso aguardo sossegado,

Um amor em cada lado,

Nesta sina do meu fado,

O amor por aprender.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Imaginar

Imagina-te deitado(a) no campo, o céu como tecto, iluminado pelas estrelas, com alguém especial ao lado... Uma estrela cadente cruza o céu, uma leve brisa abana as árvores, o riacho ao fundo serve de banda sonora a este cenário. Ambos se aproximam, trocam um beijo, a lua como única testemunha, o palpitar dos corações a marcar o ritmo desta melodia…

Agora fecha os olhos e ouve a música em baixo e imagina mais uma vez…


domingo, 12 de setembro de 2010

Fantasia

Recentemente, enquanto sonhava acordado numa destas noites de verão, lá escrevi uma letra que até gostei muito. Chama-se Fantasia. Espero que gostem :)

Para ele tudo era fantasia,
Vivia só nessa alegria
De um dia a encontrar.

Já ela era mais fria e calculista,
Com sua expectativa irrealista
Desse dia não chegar.

Marcou-se certo dia o encontro,
Nas estrelas escrito o conto
De que se iriam enamorar.

E ele com toda a sua inocência,
Tendo já sua referência
Acabou por confessar

Refrão:
Um amor, um
Verso desse poema
Que faz valer a pena
De manhã acordar

Quando o galo canta,
Que toda a aldeia encanta
E, apesar do cansaço,
Dá gosto trabalhar.


Ela desconfiada que
Aquilo não daria em nada,
Sem notar estremeceu.

Pois o rapaz, com sua sinceridade,
Com respeito e sem maldade,
Sem o querer a surpreendeu.

E nesse encontro, que fica aqui o conto,
Por mais que se acrescente um ponto,
Sua alma espaireceu.

Pois o rapaz, com todo o seu encanto
Disse “para ti eu canto”
Uma cantiga que escreveu

Refrão:
Um amor,
uma serenata,
Essa nota que arrebata
Desse coração só teu

Uma melodia,
Esse sorriso que fingia,
Que pensava que podia
Esconder-se no adeus.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Máscaras

Não estou propriamente muito inspirado para fazer uma introdução a este poema, portanto, o que dizer sobre ele… Este poema fala de medos, de dúvidas, de mecanismos de protecção. Fala também da vontade de conhecer genuinamente outra pessoa, pondo outras intenções de parte, de uma dança do quer e não quer… Enfim, um poema que já escrevi há uns mesinhos e que até gostei.

Máscaras

Mascara-se com as frases
Usando palavras caras,
Nunca dizendo aquilo que sente.
Sorri para ele
Olha-o com ternura,
Mas ao falar, mente.

Não tem coragem para dar um passo,
Por mais pequeno que ele seja.
Mostra-se valente,
Receando no entanto o risco,
Disfarçando com o sorriso
O medo que não quer que ele veja.

Ele apenas quer conhecer
Essa luz que irradia
Por aquele olhar.
Mas ela imperturbável
Mantêm a sua postura estóica
E nada quer mostrar.

Ele, teimoso como só ele sabe ser,
Senta-se frente a ela
E estende-lhe a sua mão.
Espera que toda a sua perseverança
A tire do meio dessa dança
E que ela abra o seu coração.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Recortes Lacobrigenses

Lagos é uma cidade fantástica para se passar o Verão. Bem mais pequena que Albufeira e Portimão, Lagos tem uma certa aura acolhedora e mais familiar do que esses grandes pontos turísticos (e não, não digo isto por ter crescido nesta cidade, simplesmente é a minha opinião).

Para além disso é uma cidade inspiradora. Seja pelas magníficas praias, pelas grutas cavadas pelo mar que se estendem pelas falésias, ou pelas ruas que, durante a noite, têm um artista em cada canto, seja ele um músico, um pintor, um bailarino, ou um dos vários homens-estátua que imitam o rei D. Sebastião (e que, de ano para ano, cada vez se encontram mais).

Mas não querendo que isto comece a parecer uma página de publicidade aos destinos mais agradáveis deste país, o que realmente eu quero dizer é que escrevi uma música. Por enquanto é apenas um esboço, ainda tem muito para retocar, mas o que interessa é que está a sair algo. Essa música é justamente sobre a minha cidade e tem o nome deste post.

Quando estiver tudo alinhavado partilho aqui a letra, para já deixo-vos com uns versos e uma fotografia de uma das praias.


Nas rochas segredos que só o pescador vê,
Por mais que tente o sábio intelectual os lê...

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Redescobertas

Como habitualmente me acontece, chega a uma certa altura das férias que passo por um momento de introspecção. Neste verão, isso tem vindo a acontecer de uma forma mais prolongada que noutros. Passando pelas arrumações, pinturas e remodelações de um velho quarto, há redescoberta de um gosto pela escrita, e mais recentemente pela composição de algumas canções.

Essa epifania (se é que assim o posso chamar) passou-se durante o festival Sudoeste. Aliás, foi durante o concerto de Beirut, o qual eu referi no post anterior que decidi investir um pouco mais nessa veia criativa que tenho deixado semi-adormecida desde que entrei para a universidade, há quatro anos.

No que diz respeito à escrita em si, desde há uns meses para cá que tenho escrito poemas e letras novas. No entanto andava com um bloqueio a nível musical. Para minha surpresa, nestes últimos dias tem sido ultrapassado.

Por enquanto deixo-vos com mais um vídeo de Beirut, de uma música que só hoje descobri e que foi amor à primeira nota.

sábado, 21 de agosto de 2010

Sorrisos

Há músicas que inexplicavelmente nos põem com um sorriso. Desde o primeiro acorde que são uma viagem pela nossa imaginação e trazem-nos um estranho conforto e bem-estar.

Foi assim que me senti no concerto de Beirut no Festival Sudoeste este ano. Desde a primeira nota que foi uma viagem por outro mundo. Bastou fechar os olhos e navegar à deriva naquelas ondas de sons de acordeão, guitarra, trompetes e ukulele. O auge foi, para mim, a minha música preferida – “Postcards from Italy”.

Fica aí o vídeo da música que encontrei no youtube.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Piano

Cai a chuva lá fora,
O vento faz-se ouvir enquanto sopra,
O bairro dorme, mudo,
E o piano, levemente, toca.

Só ele o escuta
Enquanto ela o faz cantar,
Suavemente dedilhando
Suas músicas de embalar.

Melodias fazem sonhar
Acordado noite dentro
Fazendo o tempo parar
Um segundo, p’ra meu contento.

Como se cada manhã fosse igual
Cada dia fosse Domingo,
Como se esse primeiro beijo
Se fosse eternamente sentindo.

As primeiras noites
Não fossem apenas memória
Repetindo-se toda a vez,
Todas com uma diferente história.

Desde o olhar ao sorriso,
Até ao cabelo intrometido,
Todos eles dançam ao ritmo
Desse instrumento antigo.

Voltando a si ele repara
Que a música abrandou
E que as notas de raiva que escutara
São agora de uma paixão com que sempre sonhou.


03/05/2009

Cinema

Escuto ao fundo um sopro do destino,
Uma voz doce que encanta,
Um sorriso genuíno
Numa noite entre tantas.

Não tenciono prender-me
Nem sequer reter-me no tempo,
Mas ao passar por aquela rua
Fico preso no momento.

Um momento em que passava
Sem nada a atenção me despertar,
Dei por mim a ver uma fada
Como se fosse minha consciência a falar.

Guardei para mim esse segredo
Acabando por o revelar
Outra noite, mesmo enredo,
Uma história ainda por contar.

Acaba o primeiro filme
O público sai da sala desiludido
Sentindo, no entanto,
Não se tratar de tempo perdido.

E ninguém os pode censurar, realmente.
Com o cinema às escuras
A fita começa a rodar novamente
Deixando antever o final
Pelo qual aguardava esse público descrente.


20/04/2010

Palavras

Como passar para palavras o que se vê?
Uma imagem vale mais que mil palavras,
Mas nem sempre toca um pessoa
Com a intensidade de uma frase.

Uma frase nem sempre é tão directa e sincera
Como a sinceridade de uma imagem.
Um gesto, por vezes, desperta sentimentos
Que nem a mais bela frase consegue despertar.

A imagem pode esconder,
Mas o gesto não o pode negar.
As palavras podem mentir,
Mas o sentimento acaba por se revelar.

Ao exprimir o que se sente
As palavras podem não chegar,
A imagem pode se desfocar,
Mas o gesto acaba sempre por se ouvir,
Transmitindo a mensagem
Com a intensidade com que o sol se faz sentir.

Nada diz "amo-te" de forma tão inocente e sincera
Como uma simples flôr.
A palavra esconde-se na imagem
Com um simples gesto,
Exprimindo um sentimento puro
De um modo directo.

Nada como uma expressão
Para demonstrar a falta de afecto.
Nada como um sorriso
Para chamar a atenção de um olhar discreto.

Nada como um abraço
Para sentir a vida correr nas veias
Com a energia de uma estrela
E a beleza de uma sereia.

A vida não é tão má
Como leva a crer.
Basta aprender a sentir
O que nunca se quis viver.

Ouvir o mundo a falar
Através do vento e do mar.
Sentir a chuva a cair,
Olhar para cima e sorrir.

Sentir a água a escorrer,
Mergulhar no mundo e crescer.
Ouvir um pássaro a cantar,
Ver uma árvore tocar no ar.

Saltar de uma encosta para o oceano.
Olhar para cima
E sentir prazer no que se subiu
Para um momento poder viver.

Pensar no que se viveu
E ter orgulho de o ter vivido,
Sentir-se realizado
Por ter em cada instante sentido.

Das memórias ficam imagens
Por palavras, então, descritas,
E só o gesto de as descrever
Exprime a ilusão das escritas.


09/05/2006

Recordações

Olhos

Nos teus olhos vejo
Um mar de coisas sem fim,
Um reflexo desfocado,
As flores de um jardim

Nos teus olhos vejo
A esperança que nunca tive
A dor que terei.
A felicidade de quem vive
No castelo de um rei.

Nos teus olhos vejo-me
A viajar. Navegar nas tuas lágrimas,
No teu coração aportar,
Como que em busca de tesouros
Que uma pirâmide possa guardar.

Procurei lá no fundo
Por uma réstia de luz.
Entrei num novo mundo,
Fiquei preso no tempo
Sem tentar fugir,
A saborear o momento.

Agora nos meus olhos
Sinto falta dele.
Tento alcançá-lo
Mas não consigo tê-lo.

Agora nos meus olhos
Sinto lágrimas a cair
Por um instante passado,
Por algo que há de vir.

Nos meus olhos vejo
Escuridão. Um espelho partido
Vazio, um caixão.
A vida a fugir-me
Por debaixo da minha mão.

Com os teus olhos vejo
Um futuro único para nós,
O fim do desespero,
A prova de que não estamos sós.

Com os teus olhos vejo os meus.
Nos meus olhos vejo os teus.


31/10/2005

Vícios

Pego em ti uma última vez
Como se da primeira se tratasse.
Saboreio-te lentamente
Deixando que o tempo te leve.

Não sei porquê, mas voltei para ti,
Só mais desta vez…
Sentir junto a meus lábios
Esse prazer que alguém fez.

E na derradeira experiência
Ouso olhar à volta
E apreciar a verdadeira essência
De algo que não volta.

E ao querer largar-te, hesito.
Tenho medo de te deixar para trás,
Que nesse segundo
Passes de verdade a mito.

Toco-te mais uma vez
Para ter a certeza que não te esqueço,
Na esperança de que vejas
Aquilo que te ofereço.

Acabo por te largar,
Por te atirar janela fora.
Enquanto te vejo a voar
Não quero acreditar que foste embora.

Se fosse tão fácil ter-te de volta
Como estes vícios pouco saudáveis
Matava de vez a saudade
Tornando-nos inseparáveis.

À Procura da Terra do Nunca

Há filmes que nos inspiram. No anterior blogue, inspirado pela demanda de Chris Mccandless em busca da derradeira liberdade, retratada no filme Into the Wild, eu procurava a minha liberdade nas palavras. Neste blogue a paisagem é outra.

Ao ver o filme Finding Neverland, cheguei à conclusão que todos nós, através da nossa imaginação, dos nossos sonhos, procuramos o nosso caminho para Terra do Nunca. Todos gostariamos de viver lá de certa forma, um mundo perfeito em que um momento dura para sempre, em que tudo é possível.

Os primeiros posts vão ser dos poemas que já tinha colocado no outro blogue. A partir daí é dar asas à imaginação, começando assim À Procura da Terra do Nunca.